dezembro 22, 2012

Fiel anatomia


                Sintonizar as redes do sistema, uma por uma. Não deixar rastros de falcatruas acumuladas  nas paredes internas. Apagar o amor e suas demais demonstrações de afeto. Baixar crueldade, ambição, luxúria, ira, avareza, egoísmo. Conectá-los as ondas suplementares do coração de lata e deixar que um líder os conduza à destruição.
                Perfeito. Eu criei uma cópia do ser humano. 

novembro 29, 2012

Mentirosa


Ela nem se preocupa em limpar o próprio veneno, que escorre doce pelos lábios flamejantes. Intoxicante. Desejável acima de qualquer outro. Como eu quero ouvir suas mentiras, acreditar em cada uma delas e sentir o êxtase de ser enganada. Como quero sofrer o choque da verdade, da realidade, e sentir o amargo mel correr pelas minhas veias e paralisar as minhas ideias.
Tão mentirosa. Tão venenosa. Tão deliciosa.  
Sugue a minha inocência e faça de mim uma cobra leitosa, assim como você. 

novembro 20, 2012

Devagarzinho se vai longe

O tempo nos passa rápido demais. Não porque o tempo em si esta com pressa, mas porque nós cogitamos uma ansiedade sob qualquer circunstância de paz de que o tempo que Deus nos deu para nossos dias é excepcionalmente curto.

Esta manhã levei meus filhos ao zoológico da cidade. Um local agradável para ensinar as crianças que o convívio com os animais é de extrema importância social. Tudo ocorria muito bem, porém, por mais que eu tentasse evitar acreditar, notei a impaciência de meus filhos. De inicio acreditei que fosse a ansiedade em percorrer todo o parque e ver todos os animais possíveis, mas percebi que estava enganado.

As crianças tinham pressa, porque estão acostumadas com a rotina descompassada dos pais. Inutilmente me ocorreu que a culpa de meus filhos serem impacientes para com o tempo era minha. Em muitos momentos de nossas vidas deixamos de nos preocupar com o pormenor, e nos propiciamos a ser práticos e improdutivos. Não apreciamos ou se quer aproveitamos nosso tempo de maneira aceitável.

Foi no meio desse turbilhão de choques emocionais que fiz uma analogia de minha vida com a de uma tartaruga. Estabeleci em minhas ideias que vivemos em uma correria desgovernada que nunca nos trazem boas e sólidas concretizações. Obviamente muitos acreditam que no "não se sabe o dia de amanhã", porém isto é um paradoxo que não tenho tempo para analisar, pois não vivo na desenfreada de aproveitar os momentos. Apenas vivo.
As tartarugas tem uma paciência nata. Elas não correm, e não sofrem a pressão do trabalho árduo. Intuitivamente e sabiamente elas se locomovem no romantismo da lentidão, analisando (ou não) cada gotícula de água ao seu redor.
           
Minha afinidade com as tartarugas é devido a sua peculiar longa vida. Existem espécimes que podem viver por mais de 100 anos. E basta olhar para uma que um sentimento de serenidade, paz, ou até mesmo nostalgia nos invade e corrompe qualquer pensamento sobre algo que nos esquecemos de fazer ou comprar. Levar em consideração que tais bichinhos duram tanto tempo, vagueando por oceanos sem nunca se apressar, é ainda mais cruel para os deficientes de tal privilégio divino. O que nunca percebemos é que o stress de nossa correria tem se tornado uma rotina, e classificado "normal".

As tartarugas nunca foram vistas correndo, literalmente, e sua longevidade é mais um motivo de comparação teórica. Eu acredito que estamos absurdamente enganados e que deveríamos filtrar da genialidade de nossas crianças a grosseira ideia de que o tempo é curto. Quem sabe desta forma não apreciaríamos uma vida de quase 200 anos de experiência? Poderíamos simplesmente aproveitar o ritmo desses animais tão exóticos.

Então, ainda esta com pressa?



(Crônica escrita para aulas de Redação).

novembro 02, 2012

157


Até que ponto reviver o passado nos faz bem? Até onde podemos enganar-nos com mentiras descaradas sobre nossa própria felicidade? Quais os aspectos positivos? E os negativos?
É reconhecível que tudo não passa de omissões para evitar dores maiores. O passado foi bom, porque você foi outro. Os dias estão cada vez mais remotos, e estamos nos acomodando com o habitual. Afinal de contas, por que mudar se esta aceitável assim? É óbvio que reclamar os dias de glória é muito mais fácil do que lutar para conquistar os novos.
A verdade é que estou cansada. Tenho vontade de chorar e dizer a todos que penso muito mais além do que eles podem ver em mim. A tristeza consome minha áurea passível e mais que de repente eu me torno amarga, silenciosa, e suja. Sinto as mentiras perfurarem minhas entranhas como ferro retorcido, e a dor que invade meu corpo é muito menor do que a que contamina minha alma.
Até que ponto eu estarei sóbria para reconhecer meus erros? Até onde eu poderei fingir que não enxergo o óbvio? Quais as vantagens de viver nas sombras daquele que enfrenta?
Quando vou ser liberta? Diga-me, pois é o que mais quero saber.  


outubro 30, 2012

As vantagens de ser um perdedor


O ventilador na mesa de centro fazia um ruído engraçado enquanto girava pela sala vazia, exceto por mim e a recepcionista que tagarelava no telefone com alguma mulher chamada Carly.
Há meia hora eu tentava sem muito sucesso concentrar-me na revista sensacionalista em meu colo. A capa era estampada com a foto de alguma atriz que era criticada por ter engordado 8 quilos para a nova novela em que interpretaria uma jovem que enfrenta bulimia. A manchete era escrita com letras garrafais, e levava a seguinte frase: “Até onde a ganância pelo sucesso pode nos levar?”. É óbvio que a moça era um estereótipo da mulher de hoje, mas nada era mais perturbador para mim no momento do que o falatório descompassado da recepcionista.
Eu estava sentindo falta. Era isso o que sentia. Não posso chamar de saudade, não. É a necessidade de poder usar, e ver-me livre dos problemas, dos médicos e dos psiquiatras. Poder sorrir e não me preocupar em prevenir a todos de que desta vez não irei perder o controle. Sorrir e sentir o êxtase viajar por minhas veias.
Larguei a revista e procurei me concentrar nos pontinhos pretos das cortinas. Nunca havia visto um tecido tão peculiar, e que parecesse tão sujo e amarelo. Não me importei em fazer críticas mentais. Naquele momento eu apenas queria exercitar minha mente e esquecer os prazeres que estavam tão longe de mim.  Novamente, não obtive sucesso.

Ah, daria um doce para fugir deste lugar.

Encostei a cabeça na parede atrás de minha cadeira desconfortável. Explorei cada centímetro do teto cor de abóbora da clínica, e depois cerrei os olhos. Ouvi meus próprios batimentos cardíacos, minha respiração acelerada pela aflição; pela urgência em fumar um baseado qualquer. E ouvi o ventilador, e de repente aquele me pareceu ser o som mais agradável que já ouvira.
Eu gostaria de ser como ele. Gostaria de repelir. Gostaria de aliviar. Gostaria de ser um ser sem vida, que não causaria mais problemas. Eu poderia ser o ventilador de teto da sala de estar dos meus pais, assim seria um alguém inanimado, porém, presente. E poderia agraciá-los com um vento refrescante quando sentissem calor, e eles sentiriam alivio. Seria muito mais do que já fiz por eles até hoje.
Soltei um risinho baixo diante da minha demência. Engraçado como eu parecia mais racional quando estava chapada.

Ouvi os sinos da porta soarem com veemência, despertando-me de meus pensamentos com meus botões. Um homem entrou na sala. Era muito alto, e usava uma camisa cinza por baixo da jaqueta de couro. Um jeans que parecia ser extremamente caro e o último modelo (ou talvez não) de tênis lançado pela Nike nos pés. Os cabelos eram castanhos, muito longos, e ele tinha sobrancelhas naturalmente arqueadas, o que eu achava muito divertido em pessoas que usufruíam dessa dádiva de Deus.
Seu nariz era pontudo, tinha sardas pequenas e um tanto fofas demais para alguém de aparência tão abusiva. Os olhos eram azuis, brilhantes como as estrelas. Sei que a comparação soou muito poética, mas seus olhos eram brilhosos demais.
E também estavam vermelhos.

Senti uma tremenda vontade de rir. É claro que ninguém viria a um psicólogo especializado em tratamentos de desintoxicação porque era um puritano ou algo o tipo.
Ele focou seus olhos em mim quando percebeu minha presença. Suspirou fundo e sentou-se ao meu lado. Talvez tivesse chegado cedo demais e não estivesse a fim de papo. Mas ficou ali, entrelaçando os dedos nervosamente, sem mexer qualquer outra parte do corpo. Típico.
Cruzei as pernas e voltei ao meu ritual de ventilador/quero ser. Fechei os olhos novamente, e quando estava quase cochilando, senti algo quente encostar-se a meu ombro. Presumi que o homem ao meu lado havia endireitado a coluna, até que uma voz demasiadamente aveludada e assustadoramente calma falou comigo.

“Eu gostaria de nunca ter que voltar aqui”.
“Eu também não.“ Confessei em um sussurro, ainda de olhos fechados.

“Há quanto tempo você vem?” Talvez ele estivesse nervoso demais e quisesse bater um papo para descontrair. Resolvi ser legal.

- Dois anos, sete meses e catorze dias. – Respondi, abrindo os olhos e focando meus olhar em seu rosto amedrontado de menino, que tentava o tempo todo parecer forte o suficiente para enfrentar tudo. Porém, ele não era. Ninguém é. – Posso te dar as horas e os minutos também.

Ele soltou um sorriso nervoso, e desfez os laços das mãos. Seu olhar procurou o meu, e percebi que ele não era um menino amedrontado ou algo do tipo. Era um homem um tanto perturbado, mas a sua aparência ao acusava. Não sei como sua mãe não o estava acompanhando.

- E você? – Arrisquei.
- Quatro meses. Não me lembro dos dias e nem das horas, mas posso afirmar que nunca foi um passeio agradável. – Ele me estendeu a mão esquerda. – Sou Zachary.
- Florence. – Deslizei meus dedos pela sua mão de dedos longos. Trocamos um aperto de mão firme, e logo eu acabei com o toque.
- Engraçado. Nunca conheci alguém com seu nome. – Comentei, enquanto admirava a fivela de minha sapatilha.

- Também nunca encontrei alguém com seu nome. Florence... – Ele saboreou a palavra com muito mais doçura e ironia que o necessário, e eu tive vontade de rir.

Ele voltou a curvar a coluna, e tirou do bolso da jaqueta um isqueiro, e começou a brincar com o fogo que saia do objeto. Eu entendia o nervosismo dele. Entendia bem demais.

- Você veio por vontade própria?

Eu achei que seria eu quem faria esta pergunta, mas Zachary apressou-se em formulá-la antes de mim. Não sabia se queria responder a essa questão, mas não negava que era o que outro paciente perguntaria ao colega numa sala de espera.

- Não.

Ele esperou, com os olhos fixos no fogo. Cogitei em avisá-lo que olhar muito para o fogo causa estrabismo, ou era isso que minha mãe dizia quando eu era pequena e brincava de acender fósforos.

- Meu pai me arrastou para uma clínica há alguns anos, e agora que meu caso se tornou “estável”, faço as consultas mensais. – Murmurei, pensando se já havia contado isso para alguém. Não conseguia me lembrar.

Ele riu, e eu franzi o cenho. Parou o isqueiro e voltou-se para mim, mexas de seu cabelo caindo sobre seu rosto pálido. De repente, o achei muito bonito.

- Eu vim por vontade própria. Já faz um tempo... Comecei com o psicólogo há pouco tempo. Tudo tem sido muito insuportável, e às vezes a recaída me leva até as bocadas de sempre. A vontade tem diminuído mais rápido do que eu esperava, mas ainda não consigo controlar tudo como eu queria. Gostaria ter o poder de parar de torrar o dinheiro da família nessas merdas... Era mais fácil quando eles nem notavam que eu existia... – Ele enroscou as mãos no cabelo, segurando a cabeça num gesto exausto e culposo. Senti compaixão por ele. Há algum tempo eu também me desesperava por umas gramas de êxtase. Aliás, até poucos minutos eu sentia o peso da família em meus ombros, o peso de não dar orgulho aos pais, a ninguém, nem a si próprio. Eu sabia o que Zachary estava sentindo. Eu sabia exatamente o que dizer, e também sabia que ele não ia acreditar.

Pousei a minha mão em seu ombro. Talvez estivesse protelando muito o ato, mas precisava reconfortar alguém que tinha a vontade de se livrar dos temores, das crises e da alucinação temporária que o fazia feliz, completo, ou talvez só lhe desse prazer suficiente por algumas poucas horas.

- Depois de um tempo, tudo fica bem. Fica mais claro e mais fácil.

Ele olhou em meus olhos com tanta profundidade, que esperei que ele se levantasse e desse-me um soco bem no meio da cara. Contudo, ele apenas moveu o queixo maciço, e formou um pequeno sorriso agradecido com os lábios rosados. Senti um alívio repentino pelo gesto dele em agarrar a minha mão, para logo depois soltar, um tanto desajeitado, mas totalmente sincero.

Zachary e eu continuamos a nos ver depois daquele dia. Ele me pagava um café na Street e eu lhe falava do meu trabalho de redatora na Orange, uma revista nerd para adolescentes curiosos e inteligentes. Zac gostava muito de ouvir sobre as matérias antes que elas fossem publicadas, e nós debatíamos sobre os assuntos mais bizarros que eram pesquisados para a revista.
Depois que eu contava tudo, ele me falava da faculdade. Foi uma surpresa quando contou-me que havia retomado o curso de matemática. Zachary adora números.
Um ano depois ele já estava mais acostumado ao psicólogo, e eu já frequentava a clinica duas a quatro vezes ao semestre. Zachary melhorou seu relacionamento com os pais. Eles já não davam mais dinheiro, e nem perguntavam a ele como ele gastava seu salário de professor. E com o tempo, Zac levou-me para conhecer seus pais e irmãos, e pude perceber o quanto sua família era rica e totalmente aconchegante.

Sempre questionei a mim mesma o porquê de ter sido uma usuária. Minha família era simples, porém sempre fui rodeada de carinho e atenção o suficiente para evitar as festas e os amigos errados. Talvez Zac fosse agraciado com o mesmo, somado ao dinheiro que obtinha a qualquer hora.
Depois de alguns poucos verões, nos mudamos para um "apartamentinho" apertado em Manhattan, que era o suficiente para que nós fizéssemos de lá o nosso lar. Rolávamos de sofá à tapete, fazendo amor até o dia clarear, e pela primeira vez em anos, eu me sentia completa. Sem o prazer fugaz, a alegria momentânea e a adrenalina em fazer loucuras que me poderiam por-me na cadeia.

Minha garganta não estava seca. Eu não suava frio. Eu não ansiava o momento em que usufruiria da droga. Eu sentia a liberdade como uma brisa gelada a bater em meu rosto. Eu vivia os momentos mais simples de minha vida que quase havia sido jogada fora pela própria dona. E eu finalmente sentia que os tons da minha felicidade eram muito, muito mais prazerosos. Eu nunca trocaria o bom pelo nada.
E Zachary estava comigo. Isso era o que realmente me importava. 

outubro 15, 2012

Tato


Nada poderia ser mais prazeroso do que deslizar meus dedos sobre elas. Eu tocava suas brancas e pretas, e ela suplicava que eu continuasse, pedindo clemência nos sons que emitirá. Os grunhidos que perturbavam o meu controle, e roubavam a pouca decência que tinha até sentar-me a frente delas.
Deixei que minha mão esquerda as torturasse. Com uma força mais abrupta, eu a fiz gritar no grave. E depois eu a acometi de delicadeza. O fulgor de nossa relação não cabia em mim. Toquei com rapidez, sugeri movimentos que nem eu mesmo sabia que era capaz de realizar, e no gozo das brancas e pretas, eu fiz uma pausa. Um remake de nosso pecado silencioso. Não deixaria de tocá-las, de fazê-las gritar sob meus dedos.
E a suavidade que preenchia os meus ouvidos era mais que essencial, era perfeita. Eu sofria da decadência de possuí-las. Eu desejava acima de qualquer outro sonho, tocá-las. Eu voltava com loucura, em total transe de paixão. Deixava as minhas marcas feitas pela força de minha vontade, e no fim eu sabia o que era o meu sentimento antes oprimido.
Eu era a música. Eu fazia música. O prazer de tocar minhas teclas estava num pedestal acima de qualquer outro para mim. Eu pecava com o piano, e fazia a heresia soar para todos que quisessem ouvi-la.
Eu amava a música. Amava as pretas e brancas, que cantavam sob meu toque. 

outubro 09, 2012

Adorável clichê



Quem nunca sonhou? Sonhos são relativamente pequenos e anormalmente grandiosos demais para os nossos pequenos corações. E eles sempre mudam. Adaptam-se a nossas recentes escolhas, nossos novos caminhos e objetivos.
O importante de viver hoje, é saber que adoráveis clichês existem, e que sonhos podem fazer parte da nossa realidade. Basta você sofrer o suficiente para realizá-lo, ou como dizem por ai, "acreditar". No fim das contas, tudo valerá a pena.



Evanescence em São Paulo, dia 07 de outubro de 2012.

setembro 28, 2012

Homem Transcendente


Mantenha a curta distância entre nossos corpos. Seja sagaz e possua o que te pertence. Tome para si o mar de meus olhos e construa sobre nós a semelhança do carinho. Supere as minhas expectativas; detone com minhas dúvidas e implante sua fortaleza em mim.
                Beije-me de forma sobrenatural. Resolva os problemas; acarrete todas as consequências e jogue-as para os próximos. Não preciso de perfeição, não preciso riqueza. Dê-me lealdade, e não amor. Dê-me companheirismo, e não pudor.  Salve, salve a indiferença! Deixe-me louca, deixe-me perdida.
                Jogue seus cabelos para trás, e foque seu céu sobre mim. Não deixe de saciar-se. Sugue todas as forças que posso ter. Deixe-me fraca, ao deleite, e depois me renove. Faça do nosso sentimento seu brinquedo. Encha-se de loucura e de torpor. Vá embora, mas volte o mais rápido que puder. Ou leve-me com você para outra dimensão.
                Beije-me, homem de mármore, e devore todas as minhas expectativas e sacie todos os meus desejos. Diga-me se você é um anjo ou um demônio antes de raptar minha sanidade... Conte-me o porquê de um olhar tão opaco, e, depois me presenteie com seu toque eletrizante. Dê-me um beijo hipnotizante mais uma vez, e magnetize nossos corpos.

setembro 11, 2012

"Hana"


Flores podem ser comparadas a almas.
Cada qual exala seu perfume, sua essência única, e, de certo modo, predadora. Suas divergências entre as cores causam uma atração fatal. Um desejo de preservar sua beleza invade nossos mais profundos sonhos, mergulhando serenamente em sua intensa vaidade.
A partir deste ponto, apaixonamo-nos.
E quando um coração sela a promessa de entregar sua vida a esse amor, há como fugir? É desgastante dizer que sim, pois nunca realmente aceitamos nosso destino perverso.
Amar, amar. O problema é sempre o amor. Flores são como almas. Envolventes e diferentes a cada tolo que as escolhe. Não importa a dificuldade de protegê-la. Não importa quanto tempo leve até que ela aceite suas condições atuais e cresça, sempre esperamos por elas. Sempre nos submetemos a elas.
Afinal, todos os esforços são recompensados quando elas florescem. Nascem do mínimo, e alcançam o máximo. Flores são como almas. Indulgentes, fortes e sempre subestimadas por outrem. Nunca realmente levadas a sério, nunca realmente sozinhas. Elas prevalecem em seus campos cheios de irmãs perdidas. Todas parecidas, nunca iguais.
O sol que mareja nossos olhos é a fonte de sobrevivência de todas elas. É a liberdade, a salvação. Porém, em exageros, resseca. Resseca suas pétalas tão bem trabalhadas em cores e formatos. Suas folhas amarelam e ela perde a vida, os sonhos e as conquistas.

Flores são como almas. Únicas e diferentes, e nunca realmente solitárias. 

setembro 01, 2012

Os pêsames de um prisioneiro


A vida faz de mim um morto. Como, bebo, durmo. Como todos os outros seres normais. Porém, a comida já não me apetece. A bebida não me satisfaz, e, eu já não sinto mais o sono pesar nas pálpebras.
Sou morto. Prisioneiro da própria demência. Vago por labirintos de pensamentos impuros de jovens donzelas desnudas das quais jamais vi ou compreendi o porque de balançarem o corpo freneticamente, numa dança descompassada de prazer doentio.
Estou morto. Prisioneiro do sentimentalismo oculto. Arrastado pelos cantos, murmurando o nome daquele que não recordo a face. Face... Murmuro vinganças sanguinárias. Planejo torturas enegrecidas pelo gozo das imagens que projetam em minha mente. Subestimo a minha covardia.
Desejo a morte. Prisioneiro dos dias que não passam. Da loucura que abate um velho desmazelado, que gira em torno de si próprio. Estou brincando de rodar... Até cair. 

agosto 21, 2012

Sobre Sensualismo II


"Sol" foi a primeira nota da nossa música.
Uma colcheia que transbordava a emoção de seus sentimentos, de minha ilusão. Eu deitava na beirada de seu futon, e você ria de mim. Puxava-me para perto, e eu me emaranhava nos seus cabelos castanhos, enquanto você se embriagava no meu perfume, que dizia que te lembrava pasta de dente.
Eramos dois. Ois. Sempre gostei da nossa prununcia. Estavamos colados um ao outro, uma dependência indepente, um amor tão incoerente que resplandecia em nosso peito e fazia nossos olhos brilharem, como o Sol. Sol.
Eu sempre sorri com os olhos, e você sempre todo sério, nunca partiu meu coração. Nunca quebrou minha confiança, nunca deixou de lado minha existência. Juntos nós eramos o Sol um do outro. A nota que transbordava a emoção. E o melhor em nós era o desapego, a falta de medo, a relutância ao sofrimento. Nós "ois" eramos felizes e não desperdiçavamos a coragem infantil da nossa simples sensualidade. A inocência de nossos passos no gramado esmeralda. A todo instante você me protegia dos olhares fugazes sobre nós, e no momento que cedia ao cansaço e fechava os olhos, eu podia contornar seus traços de mármore com minhas mãos, e ter certeza de que você não era parte de uma insanidade minha. Eu podia confirmar que você era um sonho meu, mas tão real quanto os dias chuvosos que se estendem pelo verão perigoso de Janeiro.
Minhas mãos contornavam suas finas sobrancelhas arquedas, seus olhos enrrugados ao simples toque. Seu nariz pontiagudo, pintado de pequenas sardas achocolatadas, que me lembravam pontos perdidos no céu azul. E por fim eu brincava com sua boca, de lábios finos e gentilmente rosados. Eu lhe roubava um beijo. Um choque de proximidade repentina de corpos. Uma eletricidade que fervilhava pelo meu corpo, e paralisava o seu. Os âmbares saiam da toca e você me presenteava com seu olhar mais gélido e acolhedor. Sempre tão sério, sempre tão sensual.
Estavamos perdidos novamente, mergulhando no mais profundo dos sonhos.
E sobre o nosso sensualismo de passos verdejantes, eu conclui que fiquei louca.

agosto 12, 2012

Sobre Sensualismo


Eu gosto de observar suas costas. Nada de inconveniente para você, já que nem ao menos imagina minha existência. Vejo você prender seus cabelos castanhos num rabo-de-cavalo desajeitado mas simétrico. Diferente dos outros, você matem as madeixas compridas, elevando ainda mais a sua beleza. Eu te apelidei de “cara” e você nem sabe da minha existência.
Um dia eu troquei olhares com você na rua. Um beco bem iluminado pelo Sol do meio-dia. Seus olhos melodiosos me atingiram como o flash de uma câmera. Foi um encontro lento, uma confissão de soberania. Eu abaixei os olhos, envergonhada por ter sido pega no flagra, tentando roubar um pouco de você pra mim. E agora você sabe da minha existência.
Um dia depois, nos vimos de novo. Eu com amigos e você solitário, com as mãos nos bolsos do jeans, a mochila pesada nas costas. Estava dando passos largos em direção oposta a minha, porém, mais que do nada, você me fitou. Os castanhos sucumbiram o mel, e foi preciso coragem para não me desviar de seu olhar severo. Poucos segundos passaram até você me presentear com um pequeno sorriso branco. De canto. Sedutor. Sensual. Você tem interesse pela minha existência. Mais que depressa eu te devolvi meu melhor sorriso meigo. E assim nós ficamos, como bobos, sustentando uma relação de olhares e sorrisos que nada podiam significar, porque nem nos conhecíamos! E foi ai que acabei com o nosso “curto” relacionamento, desviando de seu rosto e pondo um ponto final nesta fantasia infantil.
Até o dia que você me deu outro sorriso sensual, e perguntou meu nome.  

agosto 08, 2012

Anulado


                Quando o Inverno chega minha alma esfria. Meus lábios secam e o céu não parece ser tão azul. O mar congela e os sentimentos mais profundos me aquecem, feito fogo. Como pode haver tanta intensidade em dias tão sombrios? Talvez a estaticidade de nossos corpos seja motivo para que o amor se manifeste.
                Há perfume de lavanda impregnado em sua camisa xadrez colorida. E seu sorriso faz meu coração palpitar freneticamente. Deixa o Sol tocar seu rosto, menino bobo. Não leve em conta a cor de meus olhos, porque ela muda diariamente, no constante do infinito. Não acorde agora, e me deixe beijar seus lábios secos em seus sonhos.
                No Verão eu vou te tocar. Vou bagunçar seu cabelo loiro e beijar sua bochecha rosada. Do dourado da sua pele farei meu lençol fresco, e apagarei todas as promessas e mentiras com o castanho de seus olhos. Eu quero te levar para o mar frio e afogar nossos receios e medos. Eu quero te beijar, menino bobo, e dizer que você me faz suspirar.
                Descongele a minha alma e ferva meu coração. Sorria para mim novamente e concerte meus sonhos quebrados pela ilusão. Diga que tudo é verdade e que nossos olhares continuaram a se encontrar.

agosto 07, 2012

Monarquia

O rei sugou seus sonhos enquanto ela gritava. O tremor de suas mãos, as gotas frias que escorriam pelas maçãs; os olhos esbugalhados e o temor em saber algo havia algo para temer contrastavam com a plenitude e ignorância de Vossa Alteza.
Ele bebeu suas magoas, mastigou suas lembranças e desperdiçou sua devoção. Ele mentiu, enganou e usurpou sua inocência e sabedoria. E o culpado ainda goza de sua malícia.

julho 19, 2012

Controvérsia


Facilidade recorre ao simples. Inconveniência ao inesperado. Chatice ao desagrado. Juventude a inexperiência.
Jovens, desprovidos de sabedoria ou de malicia. São aqueles que quando não usados pelo Mundo e suas virtudes, são pequenas crianças com enormes olhos curiosos, prontas para aprender e reaprender aquilo que ainda não entrou em suas cabeças geniais.
Jovens são tão previsíveis e cômicos.  Tão facilmente manipuláveis, com toda a sua astucia e soberania inexistente. E quando postos a mudança, entram em choque. Uma surpresa que não admitem receber sozinhos.  Tão pequenos e desprotegidos... Perdidos no coração da pátria renascida do tártaro.

julho 08, 2012

Breathe


Quero teu castanho no meu. As notas do teu violão no meu som, seu sorriso em par com o meu.
Não posso respirar sem pensar nas combinações esclusas e inconsequentes para nós dois.
Enrola teus ralos cabelos loiros em minhas madeixas de chocolate amargo. Gruda teus lábios  rosas nos meus; entrelaça nossos dedos e me puxe para perto.
Me convide para dançar e enrosque nossos pescoços. Deixe-me sentir teu perfume, ouvir sua voz doce que entoa palavras molengas; palavras que arrancam risos de mim.
Diga que me quer.
Diga que estava me esperando.
Diga que não pode respirar sem mim

"I see your face in my mind as I drive away" (Taylor Swift)

Joana Francesa


Acorda, morena. Chegou sua vez.
Dei-te rubis e diamantes, e você comprou o amor de outro enquanto ainda me tinha em mãos.
Esqueci de mencionar teus lábios, teus risos frouxos e sua timidez em nosso contrato. Não quero desfazer-me deles. Não me julgue por buscar-te novamente, moça! Estou enamorado por teus cabelos descabelados, teu jeito cheiroso, tua voz mansa e teus olhares serenos perdidos em nossos lençóis amarelados.
Não lembre das equações; das notas compostas ou dos outros que conquistaste. Pense apenas em queimar as lembranças deste bordel de sonhos frustrados.
Mostre-me teus lábios novamente.

junho 27, 2012

Essa Pequena


Tropeço nos cantos da rua de pedra, e ela parece voar nas sapatilhas, esbarrando de leve os dedos contra os meus. Seus sorrisos vêm em cachos de artistas, soando música para meus ouvidos. Mexe os lábios freneticamente, e mal percebe que já me esqueci de manter a atenção, imaginando nós dois, ou apenas o “ois”.
Difícil seria prendê-la em uma de suas pinturas genuínas. Falta brilho e falta calmaria nos seus enormes olhos de castanha.  E esse excesso de carinho me mima, me apaixona.  Nossa novela é única no vai e vem dos passos desequilibrados na rua de pedra, no sabor de nossas histórias mal resolvidas. Na realidade de nossas músicas.
E nós acabamos no maracujá. No laranja cinzento de nossas misturas, no roçar das cordas de um violão. Ao fundo posso namorar um piano, admirar os lábios que ainda se movem rápido demais.  Ela se esquece do “ela” e só pensa no “eles”. Difícil não levar um susto quando ela para, recupera o fôlego e alarga o sorriso. Tem muita diferença nessa pequena.
Novela de artista nunca é monótona, e o cabelo dela é cor de abóbora. Isso tá mais pra sonho, amigo.  Só gostaria de saber em que Mundo eu vivo.

junho 26, 2012

Sentimental


Ontem contei as estrelas que pude vislumbrar no céu azul. No resplandecer de seus diamantes, lembrei-me das vezes que namorei, e sonhei cair num mar de escuridão noturna, vivendo um romance único entre mim e a Lua.
Nosso namoro acabava com o Sol nascendo, sequestrando minha Lua e seus diamantes sorridentes. Os dias se arrastavam, e quando por fim a noite surgia, lá estava ela a me enamorar. “Oh, Lua querida, casa-te comigo?” foi o que pedi a meu anjo lunar, e ela jamais se pôs a pensar em nós, em vós ou em “moi”.
Hoje contei às estrelas que o filme já não mais me encantava. A depressão de minhas lágrimas congeladas já não era mais expressa em minha voz ou em meu olhar. Minha amada fugiu de minha casa. Ofereci-lhe a vida, e ela me concedeu a chuva destemida.  O nublado do céu, a culpa dos réus, a injúria que rasga meu véu.
Amanhã contarei as estrelas, e elas me ensinaram que não posso amar um alguém que nunca esta presente, que não é inconsequente, que não vive o de repente.  Elas serão minhas irmãs, e farão do meu coração sentimental, um latrocínio descomunal. 

Ladrão

Não solte minha mão até que eu esteja firme. Eu mudei o peso dos meus pés e posso desequilibrar. Eu não me sinto a vontade com você, mas sei que inconscientemente estamos juntos, ferindo um ao outro.
Ao mesmo momento que quero te deixar, sinto algo fechar a boca de meu estômago. Deixe-me paz, ladrão de luzes, porque já não te quero como ontem, como amanhã. Seu enlace é fraco e suas ferramentas são pequenas. Eu sinto pena da sua dependência de vender sonhos, e de destruí-los.
Eu sei que você não é capaz de roubar meus sorrisos, ladrão de luzes, mas espero que você brilhe incansavelmente, até perceber que não precisa brilhar, e sim, sorrir.

junho 20, 2012

Voltagem Número 4


Um tremor retumba na terra, e faz o chão se dissipar aos meus pés descalços. Trovões causam problemas similares sobre meus sonhos. Aquele som grave penetra em meus ouvidos, arrepia minha pele e me desgasta, deixa-me desnorteada e precavida de medos e sustos. Apavorada.
Mas alguns segundos antes, uma brancamente azulada ilumina o céu escuro. É tão magnífica que não posso ousar não admira-la. Ela brilha com tão majestosa, tão poderosa que nem ao menos nos causa inferioridade. A admissão do poder é um defeito fatal para os humanos, que caem na tentação de dominar, de possuir, de brilhar como os raios na escuridão da noite.
E sozinha depois da tempestade, é que sinto a paz fluir sobre meus nervos antes ouriçados. Quando o medo voltar a retumbar em meus ouvidos, lembrar-me-ei de procurar pela luz perdida no paraíso. 

maio 04, 2012

Eu confesso. O quê?

Que tal um pouco mais de sinceridade, queridinha? Arrume essas afeições defensivas, não há nada que possa te ferir. Acerte as horas da consciência e aprenda uma rotina nova. Esqueça-se de pensar tanto, e concentre-se nos pequenos e simples.
Não há mal em chorar, muito menos em lamentar. Não sinta vergonha da saudade ou da fraqueza que você insiste em fingir que pratica. Apenas não deixe que aqueles monstros te persigam, e façam-te ver ilusões notórias. Acredite nos amigos.
Deixe de ser turrona e pare de forçar essa realidade constante. Sinta o medo corroer suas entranhas, é uma sensação deliciosa! Vomite essas borboletas azuis e prepare-se para o que vem. Juventude é mais que palavras bonitas, muito mais que versos aleatórios. Muito mais do que a sua abstinência passageira. Queridinha, acredite que você consegue, e conseguirá. Não preciso realmente te dizer isso, certo? Eu sei que você pode ver o Mundo girar ao seu redor. E girar, e girar, e girar.

abril 19, 2012

Desfecho

Sua sequência de luzes ainda estão vivas para mim
(Innocent, Taylor Swift)


Eu continuava correndo loucamente floresta adentro, afim de chegar a praia e fugir da névoa que me queimava a pele. Corria desesperadamente, o medo consumia minha sanidade e nada me fazia olhar para trás. Até que ouvi os gritos de Peeta.
Ele gritava alto, gritava meu nome. Katniss! Senti meus pés pararem automaticamente e dar as costas ao meu caminho, enfiando-me pela névoa ardente, e procurando por ele, gritando seu nome e procurando pela voz que me perturbava até não poder mais andar pelas dores. Pisco mil vezes até ver os sapatos caros de Snow sobre mim, rindo descontroladamente, cuspindo sangue em meu rosto. O Gaio Tagarela em seus ombros era a voz de Peeta.

“PEETA!”
Dei um pulo na cama, gritando seu nome. Meus cabelos estavam emaranhados e caiam de todos os lados do meu rosto. Eu estava suada e trêmula quando olhei para ele. Acordou sobressaltado; a mão ainda pousava sobre minha barriga. Abriu os olhos azuis tontos, tentando enxergar alguma coisa em meio à escuridão. Sentou-se ao meu lado, ajeitando a perna, e me deu um de seus abraços protetores, envolvendo seus grandes braços sobre meu corpo pequeno. E sem aviso prévio, despejei minhas lágrimas sobre sua camisa. Era a primeira vez que eu chorava em tempos, e depois de um pesadelo. Talvez porque poucas vezes sonhei em perder Peeta.

- Calma, já acabou. Eu estou aqui. – As palavras dele me fizeram contrair mais os lábios sobre sua manga, tentando ao máximo evitar os soluços e grunhidos que estariam por vir. – Katniss, esta tudo bem. – Suas mãos afagaram meus cabelos enroscados e depois de alguns minutos, me permiti olhar para seus olhos novamente.

Ele mantinha aquela expressão concentrada. Imagino que estava decidindo qual seria a melhor forma de me por para dormir novamente. Gostaria que ele apenas arranjasse uma forma de curar minha dor de cabeça, ou simplesmente curar meus pesadelos, e que eu pudesse apenas sonhar com Rue me guiando por um bosque, onde eu sentiria felicidade ao invés de angústia.

- Quer leite? – Sua pergunta me pegou de surpresa, mas acenei com a cabeça, e ele começou a se levantar. De repente, o puxei de volta. Ele quase se desequilibrou, mas manteve-se sentado ao meu lado. – O que foi?

Eu não sabia como explicar. Eu não queria perder a quentura de seus braços. Eu não queria dizer a ele que estava com medo que ele fosse para baixo e não voltasse mais. Eu não tinha nenhum álibi para fazê-lo ficar, mas precisava que ficasse. Apertei sua mão com força e deixei as palavras saírem de meus lábios.

- Eu vou.
- Não, você esta mal. É só um minuto. – Teimoso, ele se levantava. Eu o puxei de novo e ele quase foi ao chão. Ele esboçou um sorriso – Você precisa parar de fazer isso, Katniss.

Minhas bochechas arderam com o comentário, o que resultou em uma carranca. Peeta riu.

- Eu já volto. – O deixei para trás, ouvi ele me chamar, mas não atendi. Desci até a cozinha e coloquei o leite para esquentar no fogo. Deixei o mel e duas canecas à vista. Recostei-me na mesa e deixei os pensamentos fluírem sobre mim. Como foi difícil ouvir os gritos de Peeta naquela noite. Desde que ele voltou da Capital, tem sido muito presente em minha vida. Ele se aconchega em minha cama e me protege dos monstros que me atormentam, uma segurança mutua, pois eu sou aquela que o liga a realidade. Já se foram meses, e nós estamos sempre cuidando um do outro.

Eu gostaria de poder sentir aquele chacoalhar no peito novamente. Mas o que sinto é medo ou tristeza, ou apenas aquele sentimento de renovação. Prim saberia como iluminar meus pensamentos e sentimentos nesse momento. Ela sabia de quase tudo.
Ouço as batidas de seus pés descendo pela escada. Barulhento como sempre. Ele aparece sobre a luz, os cabelos louros bagunçados e as olheiras fundas contrastavam com a cor de sua camisa laranja suave. Peeta fica de pé na minha frente, os braços cruzados sobre o peito, esperando que eu explique minha teimosia, ou apenas admirando minha cara feia.
Depois de alguns segundos, ele desmancha as sobrancelhas e me da um sorriso.

- Espero ter estado bonito no seu pesadelo.

O comentário me arranca um riso curto. Ele me estende os braços e eu aceito sem pestanejar. Subo em seus pés e deixo que ele me segure num aperto incondicionalmente delicado. Seu rosto se recosta na curva do meu pescoço aos ombros. O cheiro da canela afoga meus sentidos por um longo tempo, até que ele me solte. O leite derrama e eu corro desligar o fogo. Continuo a preparar a bebida com mel em nossas xícaras enquanto ele me observa atentamente.

- O que você sonhou? – A pergunta era suave, como se aceitasse um possível silêncio como resposta. Era o que eu devia lhe dar, porque afinal de contas, eu ainda não estou pronta para lhe contar que tenho medo de que ele se vá.

- Você gritava por mim na praia, em meio à névoa. Mas não era você, era o Gaio Tagarela nos ombros de Snow. – Abaixo os olhos ao lembrar da presença fétida de sangue de Snow. Nada pode descrever a cobiça que tenho por apagar sua lembrança.

Ouço Peeta andar até mim. Ele pega uma das xícaras e leva aos lábios. Toma com cuidado cada gole, com um olhar indescritível. Uma mescla de algo que não sei definir. Também tomo meu leite em silêncio, esperando por palavras que não viriam.
Depois de algum tempo, Peeta abaixa a xícara e a deposita na mesa. Ele deixa transparecer uma expressão diferente. Normalmente, tenho medo disso. Peeta ainda tem flashbacks fortes o suficiente para me fazer correr até outros lugares, evitando as lembranças que não vivi, as torturas que não sofri.

- Quero lhe mostrar uma coisa, Katniss. – Ele puxa minha mão e me leva até a sala. Havia várias folhas de pergaminho na mesinha de centro. Peeta normalmente desenha tudo o que lhe peço para por no livro, mas sempre há esboços de desenhos que desconheço, de futuros quadros feitos em minha ausência na solidão de sua própria casa.

Ele se abaixa e pega uma das folhas. Arregalo os olhos e deixo meus lábios se entreabrirem ao visualizar Prim. Tudo perfeitamente lindo, como ela era. Os cabelos, os olhos, o sorriso simples e encantador. As lindas tranças sobre seus ombros, a expressão carinhosa. Era Prim, minha irmãzinha estava ali, naquele papel. Eu pego a pintura e não deixo de acariciar suas bochechas rosadas feitas com tinta vermelha. Não sinto vontade de chorar, não sinto tristeza. Sinto o calor de Prim novamente. Sinto seu sorriso acolhedor me dizendo que é hora de recomeçar, aos poucos voltar a viver. Talvez fosse isso que Peeta queria me dizer ao pintá-la para mim. Talvez ele apenas quisesse me ver sorrir ao vê-la novamente, como agora.

- Obrigado, Peeta. – Sussurro enquanto me prendo aos seus olhos, que me acolhem com um pequeno sorriso humilde. É esse o momento.

Deixo a pintura de Prim sobre a mesinha de centro, estico os pés e beijo Peeta. Ele fica sobressaltado, pego de surpresa. Depois de tanto tempo, é nosso primeiro beijo em que os dois correspondem. Ele desliza os lábios sobre os meus, num sentido carinhoso e doce. Deixo que ele enrosque seus braços em minhas costas enquanto amparo seu rosto com minhas mãos, acariciando com o dedão suas maçãs. O calor de seu beijo queima sobre meu peito e se espalha novamente por todo o meu corpo. Não consigo parar de beijá-lo, não quero parar de beijá-lo. Quero ganhar mais beijos, mais abraços e carinhos do garoto com o pão.

Meus pulmões gritam por ar e me permito relaxar e ganhar um beijo na ponta do nariz. Peeta ergue as sobrancelhas para mim, e me dá o melhor de seus sorrisos. O velho Peeta sempre volta nos momentos em que a nova Katniss não sabe como agir. Ele esta sempre fazendo e dizendo a coisa certa.
Ele se senta no sofá, e me puxa para sentar ao seu lado. Acredito que nenhum de nós poderia dormir novamente, porque depois de tantas superações, seria terrível estragar tudo com pesadelos. Deixo que ele passe a mão por meus ombros, enquanto levanto as pernas e as amarro com os meus braços. Peeta acaricia meu rosto, e eu fecho os olhos para poder desfrutar melhor do cheiro da canela que perfuma sua mão.

- Katniss? – Ele sussurra depois de alguns minutos e abro os olhos. Ele me puxa e ajeito a cabeça sobre seu peito. Sinto seu queixo deslizar pelo alto de minha cabeça. – Você teve medo de me perder?

Eu sabia que ele não falava apenas de hoje. Ele queria uma resposta, mas não me cobrava uma verdade absoluta, um completo entendimento de meus próprios sentimentos. Peeta apenas gostaria de saber, mas não se importava com meu silêncio pensativo. Mas eu devia isso ao garoto com o pão, devia isso até mesmo à velha Katniss, a nova Katniss, ao Peeta que estava me aparando e me protegendo dos meus medos depois de tudo que fiz a ele.

- Sempre.

Senti suas mãos apertarem meu braço. Peeta ainda tinha dúvidas, milhares delas. Eu gostaria de poder entrar em sua cabeça e desfazê-las, mas eu mesma duvidava das coisas que sentia. Mas eu sabia que era Peeta. Sabia que era de Peeta que eu cuidava, e que era com ele que tudo ficaria bem. Somente ele poderia me dar a renovação, poderia substituir minhas dores por carinhos.

Levantei o rosto e avancei sobre seus lábios novamente. Desta vez não houve susto algum ou tremor, como eu esperava; ele apenas me beijou. Ele deixou que eu demonstrasse aquilo que tinha medo de dizer ou ainda não estava pronta para lhe contar. Sua mão deslizou sobre o meu braço e afrouxou o aperto. Ele interrompeu o beijo com um riso fraco e sibilou tranquilo, me fazendo sorrir:

- Você me ama. Verdadeiro ou falso? – Ele sussurra, quase num silêncio.
- Verdadeiro.




...

Feliz Jogos Vorazes, e que a sorte esteja sempre a seu favor.

abril 11, 2012

Inovação

Pulsa pelas veias e enrubesce as faces. Todos podem ver seus sorrisos e o cintilar de seus olhos. De brancura, de castanho acoplado ao âmbar. Não há o que temer em seu coração, que a deixa com as asas soltas para voar.
Não podemos criar asas, mas todos sabem voar.
E ela voa o mais alto possível. Voa para longe, para assemelhar as cores, afim de todas conhecer. Ela não perdoa o entardecer e admira o pôr do Sol, sob seu laranja rosado. Nas condições de um amarelo apagado e um vermelho estonteante. E abaixo estão os altos pinheiros, pontudos como alfinetes que espetam dedos abobados na costura.
A moça solta um suspiro e um meio riso.
Tantas atitudes para tomar, sonhos para realizar, palavras para falar e apenas uma vida para viver. Tão pouco tempo e tantas esperanças destroçadas e reconstituídas. Oh Deus, como a vida é injustamente bela! Tenho vontade de rir descontroladamente agora, porque não posso evitar comprimir os olhos para o futuro. O que o Senhor prepara para mim? Que curiosidade, que falta dela!
E no momento, o que mais a moça deseja é adormecer sobre os braços de ser lar. Amanhã será outro dia, ainda melhor que as poucas horas de hoje.
Amanhã ela há de voar mais alto.

março 22, 2012

Eu sei que vou te amar

"Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida..."


Desce pelos ouvidos e arrebenta o coração. Ah, quem me dera se as leis da física funcionassem com os sentimentos! Tua ausência nos momentos simples faz de mim um ser indiferente aos olhos, repugnante as palavras. Volta para os meus braços e diga que nunca quis ir embora. Volta para os meus lençóis e diz que nunca esqueceu meu perfume, o cheiro dos meus cabelos e o lacrimejar dos meus olhos! Não deixa tua boneca sozinha andando perigosamente pelos cantos da vida.
Não vá esquecer-se de cantarolar suas músicas bobas nos meus ouvidos. Não deixe de assoprar seus beijos em minhas maçãs tão coradas, ou de beijar minha testa com seus lábios finos e arroxeados. Não se esqueça de preparar seus pés para quando pousar os meus em cima deles, afim de alcançar seu rosto moreno e afagar seus cabelos negros.
Deixe-me dizer que te amo a todo instante, e não se importe com as minhas mudanças de humor. Não ligue para os meus pequenos erros, e não deixe que eu te machuque, querido. Vá embora quando for preciso, mas volte assim que sua dor passar, pois serei eternamente sua.
Minhas palavras soam exageradas e infantis às vezes, minhas declarações são do mínimo ao extremo, mas não deixam de ser reais.
Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida.

março 02, 2012

Adeus fraqueza!

Nós nunca soubemos fazer as escolhas certas, mas de um pulo em outro acertamos. Mas, nem sempre quando acertamos quer dizer que o outro também tenha acertado. Tudo no vai e vem da vida, acertando e errando. Seria bom que as marcas morressem no final, seria bom que tudo o que escolhemos de pulo ficasse. Mas nada aprenderíamos, nada formaria o nosso caráter e nada completaria os quebrados de nossos corações. Tudo faz parte da experiência e de nós mesmos.
Viva a vida, e a abaixo a desistência dela.

março 01, 2012

Tonalizante

As cores fervem aos olhos até ficaram visíveis o suficiente para escolhermos nossa preferência. Eu gosto de vermelho, feito sangue. Cores ferventes, que há de tão bom naquilo que escolhemos gostar?
Cores ferventes.
Elas estouram nossas órbitas com o brilho reluzente de alma que nos causam. Boa conservação, falta de sentido, amor.
Cores ferventes.
Mudar os finais, definir os meios. Um começo inevitável. Como caracóis coloridos, esbanjando felicidade externa, fazendo do Mundo um lugar melhor.
Cores ferventes.
Mais uma mentira da luxúria do branco por elas. As ferventes.
Minha cor, por que te quero?

"Guess I thought I'd have to change the world, to make you see me."

fevereiro 27, 2012

Decadência

O tempo parou em mim há mais ou menos uma semana. O meu tudo passou tão depressa pelos meus olhos, que quando notei, já era nada. Não porque eu quis, mas porque a vida achou que eu deveria não me apegar.
Mas o destino a contrariou, e tentou dizer à vida que eu já tinha me apegado. Mas a vida foi cruel, e levou meu tudo embora.
E agora que nada tenho... O que farei? Sorrir falsamente, andar sem força, e sentir-me como uma nuvem esquecida no céu. Não consolo e nem desejos, existe apenas a dor da perda. Não há como estancar uma ferida dessas, e nem como voltar atrás.
Só espero que o tempo passe rápido, e cicatrize antes que o destino comece agir.
Vida, você poderia ter sido mais gentil comigo.

"Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto,plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar." (Shakespeare)

fevereiro 06, 2012

Desaparatação

Eu sempre achei o Universo grande demais e poderoso demais para pessoas como eu. Pessoas que estão perdidas, tentando encontrar algo ou alguém que possa acolhê-las e lhes dizer que no fim tudo se resolverá, como nas novelas ou livros. Eu queria acreditar que faço a diferença e que algumas palavras que eu diga possam mudar vidas, simples assim. Mas ainda habita em nós, pensadores, a sutil diferença entre persuadir para o bem ou para o mal.
E é ai que o poder do Universo recai sobre nossos ombros.

janeiro 06, 2012

Você não pode escapar

Não consigo respirar em meio a tanta dor. Não consigo enxergar e nem ouvir as pessoas que vejo, com os olhos frios e negros que me assustam e me fazem enlouquecer.
Eu apenas lamento pelo meu passado próximo e choro pensando nos dias que hão de vir para me atormentar.
Estou com tanto medo, estou tão assustada! E no momento não tenho ninguém para pegar-me no colo, acariciar minhas maçãs e dizer que tudo ficará bem no fim... O que faço? Por que eu? Senhor, devolva-me a felicidade que nunca tive! Por favor! Ajude-me... Estou tão errada, e as lembranças me jogaram no fim da alameda.
Meus sorrisos não têm mais o mesmo valor, a mesma cor ou a mesma sinceridade. Socorro.