novembro 29, 2012

Mentirosa


Ela nem se preocupa em limpar o próprio veneno, que escorre doce pelos lábios flamejantes. Intoxicante. Desejável acima de qualquer outro. Como eu quero ouvir suas mentiras, acreditar em cada uma delas e sentir o êxtase de ser enganada. Como quero sofrer o choque da verdade, da realidade, e sentir o amargo mel correr pelas minhas veias e paralisar as minhas ideias.
Tão mentirosa. Tão venenosa. Tão deliciosa.  
Sugue a minha inocência e faça de mim uma cobra leitosa, assim como você. 

novembro 20, 2012

Devagarzinho se vai longe

O tempo nos passa rápido demais. Não porque o tempo em si esta com pressa, mas porque nós cogitamos uma ansiedade sob qualquer circunstância de paz de que o tempo que Deus nos deu para nossos dias é excepcionalmente curto.

Esta manhã levei meus filhos ao zoológico da cidade. Um local agradável para ensinar as crianças que o convívio com os animais é de extrema importância social. Tudo ocorria muito bem, porém, por mais que eu tentasse evitar acreditar, notei a impaciência de meus filhos. De inicio acreditei que fosse a ansiedade em percorrer todo o parque e ver todos os animais possíveis, mas percebi que estava enganado.

As crianças tinham pressa, porque estão acostumadas com a rotina descompassada dos pais. Inutilmente me ocorreu que a culpa de meus filhos serem impacientes para com o tempo era minha. Em muitos momentos de nossas vidas deixamos de nos preocupar com o pormenor, e nos propiciamos a ser práticos e improdutivos. Não apreciamos ou se quer aproveitamos nosso tempo de maneira aceitável.

Foi no meio desse turbilhão de choques emocionais que fiz uma analogia de minha vida com a de uma tartaruga. Estabeleci em minhas ideias que vivemos em uma correria desgovernada que nunca nos trazem boas e sólidas concretizações. Obviamente muitos acreditam que no "não se sabe o dia de amanhã", porém isto é um paradoxo que não tenho tempo para analisar, pois não vivo na desenfreada de aproveitar os momentos. Apenas vivo.
As tartarugas tem uma paciência nata. Elas não correm, e não sofrem a pressão do trabalho árduo. Intuitivamente e sabiamente elas se locomovem no romantismo da lentidão, analisando (ou não) cada gotícula de água ao seu redor.
           
Minha afinidade com as tartarugas é devido a sua peculiar longa vida. Existem espécimes que podem viver por mais de 100 anos. E basta olhar para uma que um sentimento de serenidade, paz, ou até mesmo nostalgia nos invade e corrompe qualquer pensamento sobre algo que nos esquecemos de fazer ou comprar. Levar em consideração que tais bichinhos duram tanto tempo, vagueando por oceanos sem nunca se apressar, é ainda mais cruel para os deficientes de tal privilégio divino. O que nunca percebemos é que o stress de nossa correria tem se tornado uma rotina, e classificado "normal".

As tartarugas nunca foram vistas correndo, literalmente, e sua longevidade é mais um motivo de comparação teórica. Eu acredito que estamos absurdamente enganados e que deveríamos filtrar da genialidade de nossas crianças a grosseira ideia de que o tempo é curto. Quem sabe desta forma não apreciaríamos uma vida de quase 200 anos de experiência? Poderíamos simplesmente aproveitar o ritmo desses animais tão exóticos.

Então, ainda esta com pressa?



(Crônica escrita para aulas de Redação).

novembro 02, 2012

157


Até que ponto reviver o passado nos faz bem? Até onde podemos enganar-nos com mentiras descaradas sobre nossa própria felicidade? Quais os aspectos positivos? E os negativos?
É reconhecível que tudo não passa de omissões para evitar dores maiores. O passado foi bom, porque você foi outro. Os dias estão cada vez mais remotos, e estamos nos acomodando com o habitual. Afinal de contas, por que mudar se esta aceitável assim? É óbvio que reclamar os dias de glória é muito mais fácil do que lutar para conquistar os novos.
A verdade é que estou cansada. Tenho vontade de chorar e dizer a todos que penso muito mais além do que eles podem ver em mim. A tristeza consome minha áurea passível e mais que de repente eu me torno amarga, silenciosa, e suja. Sinto as mentiras perfurarem minhas entranhas como ferro retorcido, e a dor que invade meu corpo é muito menor do que a que contamina minha alma.
Até que ponto eu estarei sóbria para reconhecer meus erros? Até onde eu poderei fingir que não enxergo o óbvio? Quais as vantagens de viver nas sombras daquele que enfrenta?
Quando vou ser liberta? Diga-me, pois é o que mais quero saber.