maio 12, 2014

Os pêsames de um marciano

Nasci de uma fagulha de prazer cristão
Numa pátria esquecida no seio do Tártaro
Com o caminho traçado no desapego da opinião

Um suicida sem causa, rebelde por adolescência
Marcado pelo riso e pela descrença
Impróprio de julgamentos, feito de inocência

Uma vez um sabe nada de sotaque interiorano
Me disse que não se deve pedir arrego da vida
E que se Deus atendesse minhas preces
É porque nem existir ele existia

Nenhum absinto satisfaz um pernilongo madrugado
Nenhum doce apetece uma criança salgada
Virei prisioneiro de minha mortalidade
Fingindo amavelmente uma vivacidade calorosa

E a fagulha se desfaz num sopro
Fluindo na perdição do vento
Sem deixar saudade, sem deixar herdeiros
Finalmente suprindo sua necessidade

junho 01, 2013

Como um pássaro na gaiola

Depois de muito remoer minhas mágoas, decidi que é chegado o momento de implorar pela morte. Estou farto de sentir tanta dor, e de não poder ser aquele que fui. Ser aquele que tanto amei ser; um alguém inconfundível em meio a esta multidão tão escassa de bons sentimentos.  Meu olhar pode ser encontrado no além de um horizonte qualquer, algum lugar onde haja a liberdade divina.
Hoje o meu maior desejo é a vingança. É destruir meus monstros. É condenar aqueles que me encarceraram nesta prisão sem chave e sem luz, à tortura eterna. Tortura que vivo dentro deste caixote de lembranças. Estraçalhar o pescoço daqueles que cortaram minhas asas, e por fim sentir o perfume da vitória. Então espero, sinceramente, sentir uma alegria infinita ao sair deste calabouço de pedra, e dentro de minhas condições imutáveis, reviver.
Somente desta forma, e tão somente só, minha consciência estaria dividida entre meus pecados e glórias, dando uma continuidade infinita para meu tormento. E para que se possa compreender melhor minha dor, quero que eles saibam a verdade. Quero que saibam que quando eu finalmente estiver em paz, ainda não poderei voar. Minhas asas foram cortadas em partes, para que no fim eu mesmo concluísse uma autocondenação a solidão  Para que no fim eu sentisse o arrependimento, e o sofrimento do pesar de uma consciência inabalável tornar-se frágil e facilmente atingível.
Eles me queriam atormentado, não morto.
Queriam-me engaiolado.  

maio 01, 2013

Nina


Quando ela passa por mim com seu perfume de água, sorrindo forçosamente e presenteando todos com seu “Bom dia” alegre, eu consigo sentir o abismo que há entre nós. Deixo que ela olhe-me com seus olhos sem cor, os mais insinceros que finjo já ter visto, e devore-me com sua espontaneidade acumulada de dias infelizes e cinzas.

 Querida Nina, se você soubesse como quero saber a verdade...

Eu a observo todos os dias, a vejo cometer suas gafes e rir de seus problemas. Espero que nunca arranje um namorado ou beba um drinque sacana. Eu espero ansiosamente que ela diga “até logo” no fim do dia. Mas acabou, esqueceu.

Nina querida, seja sincera...

Pela primeira vez a vi chorar. Soluçante como uma criança, com a boca coberta pelas mãos. Não havia lágrimas, apenas o sentimento de profunda dor. Suas emoções sempre contagiam a todos. Sempre. E no momento em que a abracei, senti minha camisa ser molhada pela água que escorria lenta dos olhos, enfim verdes, dela.
Ela brilhou de forma figurativa em minha mente. Por alguns minutos eu senti a eternidade em meu futuro como um todo, um total de mentiras que construí por toda a minha vida. A única verdade era que Nina não era uma inverdade. Ela nunca realmente foi o que eu considerava um alguém repleto de insuficiência.
Nina poderia ser apenas Nina, ou poderia ser minha Nina, exatamente igual à primeira, ou a segunda, ou uma terceira...

Não chore mais, minha querida...

Sempre fecho os olhos quando estou com ela, e ouço-a rir de minhas crenças. Quando reabro as pálpebras, vejo-a na mesma posição, com o rosto apoiado nas mãos, sorrindo com os olhos insinceros, esperando por um beijo meu.
Se soubesse o quanto desacreditei em suas palavras quando resolveu ser apenas ela. E o quanto me forcei a fingir estar bravo ao me provar o contrario, quando na verdade queria rir e dizer-lhe que a amo. Porém, não seria tão divertido.
Posso até adivinhar a cara que ela faz quando escreve suas histórias, suas crônicas, e seus poemas sobre nós. 

março 29, 2013

Temporariamente morta


Estou temporariamente alienada. Temporariamente desiludida, perdida, esquecida. Temporariamente afastada, isolada, abandonada. Temporariamente fora, fechada, focada.
O que menos quero neste instante é lutar. Estou temporariamente desistindo de viver, para que possa entender o que quero, o que estou fazendo, e quais são os ideais pelos quais lutarei.
Não pergunte. Não questione. Apenas certifique-se de que estou temporariamente mal. 

fevereiro 13, 2013

Mergulho


Lembro-me que foi um salto muito alto e sonoro. Senti o vento arrebentar meu rosto assustado, e cegar-me temporariamente para o que não estava de baixo dos meus pés. Meus lábios ficaram secos, meus olhos semicerrados e uma sensação de asco me subiu pela garganta.
O Sol brilhava zombeteiro enquanto eu caía para o nada, e, no meio de todo daquele calor, eu senti frio. Senti vontade de enrolar-me no mais quente de meus cobertores, e jamais abandonar a aconchegante segurança que aquilo me proporcionaria.
Depois tudo ficou azul. Num baque surdo eu mergulhei para as profundezas do infinito. Lembro-me de mais detalhes do que posso descrever, porém, é fácil recordar o arrepio que a água congelante causou em meu corpo. Uma frieza que ferveu meus temores, e os reduziu à liberdade. E jamais esquecerei do grito que explodiu em minha garganta quando inspirei o ar acima da superfície.
Eu era o único.
Eu fui o infinito.

janeiro 09, 2013

Seu amor


Toque aquela música para meus ouvidos, querido. Sinto saudades de dançar enquanto você desliza seus dedos longos pelo nosso piano de madeira velha, brincando com meus sentimentos, sorrindo ao perceber a minha confusão.
Tudo era brilhante, até seus olhos de fogo grego.  Até quando você largava tudo e corria comigo, e gargalhava. Eu amo tanto os seus cabelos, cheio de cachos negros, cheios de você. Adoro beijar seus lábios vermelhos, e tocar sua baba rala por todo meu rosto.
O mais importante é fechar olhos, sentir você, e saber que não é uma ilusão ou um sonho. O mais importante é ter seu amor, sua luz e saber que minha vida é sua. Ter absoluta consciência de que somos um, e não ter medo.

"Wait forever for your love
Make believe that we're the only ones
Holding on whisper of your love
All we are is a dream beyond the dawn"

janeiro 03, 2013

Decisões mais que sistemáticas


Os dias não clareiam as minhas dúvidas, e minhas perguntas tornam-se cada vez mais repletas de confusão quando você insiste em ignorar meus apelos pela verdade. Eu imploro por repostas, mas você continua mudo, sugando-me com seus olhos de gato. Você espera por um ataque, prepara-se para uma defesa desnecessária.
Eu não tenho medo. Não desta vez. Serei eu, e somente eu. Não há nós. Não estamos juntos nesta guerra, porém não quero ser sua inimiga. Desejo a paz entre nossos corações inquietos. Mas eu falo, argumento e escuto. Onde estão seus recortes de sinceridade?
Minha cicatrizes são velhas e não há luta que possa reabri-las. Eu não tenho medo. Eu sou leal a minhas ideias e não corro do futuro. Eu anseio o perfume da liberdade. Eu compreendo que não há força terrestre que fará mudanças em seus pensamentos, mas sou eu quem controla meus atos e não você. Acabou o jogo de comando. Acabaram-se os tempos de submissão.
Um dia pedi que me ensinasse a ser paciente, e você negou meu pedido. Pois, muito bem, eu não preciso mais de paciência.
Serei eu, e somente eu.



"I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try"