junho 27, 2012

Essa Pequena


Tropeço nos cantos da rua de pedra, e ela parece voar nas sapatilhas, esbarrando de leve os dedos contra os meus. Seus sorrisos vêm em cachos de artistas, soando música para meus ouvidos. Mexe os lábios freneticamente, e mal percebe que já me esqueci de manter a atenção, imaginando nós dois, ou apenas o “ois”.
Difícil seria prendê-la em uma de suas pinturas genuínas. Falta brilho e falta calmaria nos seus enormes olhos de castanha.  E esse excesso de carinho me mima, me apaixona.  Nossa novela é única no vai e vem dos passos desequilibrados na rua de pedra, no sabor de nossas histórias mal resolvidas. Na realidade de nossas músicas.
E nós acabamos no maracujá. No laranja cinzento de nossas misturas, no roçar das cordas de um violão. Ao fundo posso namorar um piano, admirar os lábios que ainda se movem rápido demais.  Ela se esquece do “ela” e só pensa no “eles”. Difícil não levar um susto quando ela para, recupera o fôlego e alarga o sorriso. Tem muita diferença nessa pequena.
Novela de artista nunca é monótona, e o cabelo dela é cor de abóbora. Isso tá mais pra sonho, amigo.  Só gostaria de saber em que Mundo eu vivo.

junho 26, 2012

Sentimental


Ontem contei as estrelas que pude vislumbrar no céu azul. No resplandecer de seus diamantes, lembrei-me das vezes que namorei, e sonhei cair num mar de escuridão noturna, vivendo um romance único entre mim e a Lua.
Nosso namoro acabava com o Sol nascendo, sequestrando minha Lua e seus diamantes sorridentes. Os dias se arrastavam, e quando por fim a noite surgia, lá estava ela a me enamorar. “Oh, Lua querida, casa-te comigo?” foi o que pedi a meu anjo lunar, e ela jamais se pôs a pensar em nós, em vós ou em “moi”.
Hoje contei às estrelas que o filme já não mais me encantava. A depressão de minhas lágrimas congeladas já não era mais expressa em minha voz ou em meu olhar. Minha amada fugiu de minha casa. Ofereci-lhe a vida, e ela me concedeu a chuva destemida.  O nublado do céu, a culpa dos réus, a injúria que rasga meu véu.
Amanhã contarei as estrelas, e elas me ensinaram que não posso amar um alguém que nunca esta presente, que não é inconsequente, que não vive o de repente.  Elas serão minhas irmãs, e farão do meu coração sentimental, um latrocínio descomunal. 

Ladrão

Não solte minha mão até que eu esteja firme. Eu mudei o peso dos meus pés e posso desequilibrar. Eu não me sinto a vontade com você, mas sei que inconscientemente estamos juntos, ferindo um ao outro.
Ao mesmo momento que quero te deixar, sinto algo fechar a boca de meu estômago. Deixe-me paz, ladrão de luzes, porque já não te quero como ontem, como amanhã. Seu enlace é fraco e suas ferramentas são pequenas. Eu sinto pena da sua dependência de vender sonhos, e de destruí-los.
Eu sei que você não é capaz de roubar meus sorrisos, ladrão de luzes, mas espero que você brilhe incansavelmente, até perceber que não precisa brilhar, e sim, sorrir.

junho 20, 2012

Voltagem Número 4


Um tremor retumba na terra, e faz o chão se dissipar aos meus pés descalços. Trovões causam problemas similares sobre meus sonhos. Aquele som grave penetra em meus ouvidos, arrepia minha pele e me desgasta, deixa-me desnorteada e precavida de medos e sustos. Apavorada.
Mas alguns segundos antes, uma brancamente azulada ilumina o céu escuro. É tão magnífica que não posso ousar não admira-la. Ela brilha com tão majestosa, tão poderosa que nem ao menos nos causa inferioridade. A admissão do poder é um defeito fatal para os humanos, que caem na tentação de dominar, de possuir, de brilhar como os raios na escuridão da noite.
E sozinha depois da tempestade, é que sinto a paz fluir sobre meus nervos antes ouriçados. Quando o medo voltar a retumbar em meus ouvidos, lembrar-me-ei de procurar pela luz perdida no paraíso.