Quando ela passa por mim com seu perfume de água, sorrindo forçosamente
e presenteando todos com seu “Bom dia” alegre, eu consigo sentir o abismo que
há entre nós. Deixo que ela olhe-me com seus olhos sem cor, os mais insinceros
que finjo já ter visto, e devore-me com sua espontaneidade acumulada de dias
infelizes e cinzas.
Querida Nina, se você soubesse como quero
saber a verdade...
Eu a observo todos os dias, a vejo cometer suas gafes e rir
de seus problemas. Espero que nunca arranje um namorado ou beba um drinque sacana.
Eu espero ansiosamente que ela diga “até logo” no fim do dia. Mas acabou, esqueceu.
Nina querida, seja
sincera...
Pela primeira vez a vi chorar. Soluçante como uma criança, com
a boca coberta pelas mãos. Não havia lágrimas, apenas o sentimento de profunda
dor. Suas emoções sempre contagiam a todos. Sempre. E no momento em que a
abracei, senti minha camisa ser molhada pela água que escorria lenta dos olhos,
enfim verdes, dela.
Ela brilhou de forma figurativa em minha mente. Por alguns
minutos eu senti a eternidade em meu futuro como um todo, um total de mentiras
que construí por toda a minha vida. A única verdade era que Nina não era uma
inverdade. Ela nunca realmente foi o que eu considerava um alguém repleto de
insuficiência.
Nina poderia ser apenas Nina, ou poderia ser minha Nina,
exatamente igual à primeira, ou a segunda, ou uma terceira...
Não chore mais, minha querida...
Sempre fecho os olhos quando estou com ela, e ouço-a rir de
minhas crenças. Quando reabro as pálpebras, vejo-a na mesma posição, com o
rosto apoiado nas mãos, sorrindo com os olhos insinceros, esperando por um
beijo meu.
Se soubesse o quanto desacreditei em suas palavras quando
resolveu ser apenas ela. E o quanto me forcei a fingir estar bravo ao me provar
o contrario, quando na verdade queria rir e dizer-lhe que a amo. Porém, não seria
tão divertido.
Posso até adivinhar a cara que ela faz quando escreve suas
histórias, suas crônicas, e seus poemas sobre nós.
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