maio 01, 2013

Nina


Quando ela passa por mim com seu perfume de água, sorrindo forçosamente e presenteando todos com seu “Bom dia” alegre, eu consigo sentir o abismo que há entre nós. Deixo que ela olhe-me com seus olhos sem cor, os mais insinceros que finjo já ter visto, e devore-me com sua espontaneidade acumulada de dias infelizes e cinzas.

 Querida Nina, se você soubesse como quero saber a verdade...

Eu a observo todos os dias, a vejo cometer suas gafes e rir de seus problemas. Espero que nunca arranje um namorado ou beba um drinque sacana. Eu espero ansiosamente que ela diga “até logo” no fim do dia. Mas acabou, esqueceu.

Nina querida, seja sincera...

Pela primeira vez a vi chorar. Soluçante como uma criança, com a boca coberta pelas mãos. Não havia lágrimas, apenas o sentimento de profunda dor. Suas emoções sempre contagiam a todos. Sempre. E no momento em que a abracei, senti minha camisa ser molhada pela água que escorria lenta dos olhos, enfim verdes, dela.
Ela brilhou de forma figurativa em minha mente. Por alguns minutos eu senti a eternidade em meu futuro como um todo, um total de mentiras que construí por toda a minha vida. A única verdade era que Nina não era uma inverdade. Ela nunca realmente foi o que eu considerava um alguém repleto de insuficiência.
Nina poderia ser apenas Nina, ou poderia ser minha Nina, exatamente igual à primeira, ou a segunda, ou uma terceira...

Não chore mais, minha querida...

Sempre fecho os olhos quando estou com ela, e ouço-a rir de minhas crenças. Quando reabro as pálpebras, vejo-a na mesma posição, com o rosto apoiado nas mãos, sorrindo com os olhos insinceros, esperando por um beijo meu.
Se soubesse o quanto desacreditei em suas palavras quando resolveu ser apenas ela. E o quanto me forcei a fingir estar bravo ao me provar o contrario, quando na verdade queria rir e dizer-lhe que a amo. Porém, não seria tão divertido.
Posso até adivinhar a cara que ela faz quando escreve suas histórias, suas crônicas, e seus poemas sobre nós. 

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