Nada poderia ser mais prazeroso
do que deslizar meus dedos sobre elas. Eu tocava suas brancas e pretas, e ela
suplicava que eu continuasse, pedindo clemência nos sons que emitirá. Os
grunhidos que perturbavam o meu controle, e roubavam a pouca decência que tinha
até sentar-me a frente delas.
Deixei que minha mão esquerda as
torturasse. Com uma força mais abrupta, eu a fiz gritar no grave. E depois eu a
acometi de delicadeza. O fulgor de nossa relação não cabia em mim. Toquei com rapidez,
sugeri movimentos que nem eu mesmo sabia que era capaz de realizar, e no gozo
das brancas e pretas, eu fiz uma pausa. Um remake
de nosso pecado silencioso. Não deixaria de tocá-las, de fazê-las gritar
sob meus dedos.
E a suavidade que preenchia os
meus ouvidos era mais que essencial, era perfeita. Eu sofria da decadência de
possuí-las. Eu desejava acima de qualquer outro sonho, tocá-las. Eu voltava com
loucura, em total transe de paixão. Deixava as minhas marcas feitas pela força
de minha vontade, e no fim eu sabia o que era o meu sentimento antes oprimido.
Eu era a música. Eu fazia música.
O prazer de tocar minhas teclas estava num pedestal acima de qualquer outro
para mim. Eu pecava com o piano, e fazia a heresia soar para todos que
quisessem ouvi-la.
Eu amava a música. Amava as
pretas e brancas, que cantavam sob meu toque.
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