outubro 15, 2012

Tato


Nada poderia ser mais prazeroso do que deslizar meus dedos sobre elas. Eu tocava suas brancas e pretas, e ela suplicava que eu continuasse, pedindo clemência nos sons que emitirá. Os grunhidos que perturbavam o meu controle, e roubavam a pouca decência que tinha até sentar-me a frente delas.
Deixei que minha mão esquerda as torturasse. Com uma força mais abrupta, eu a fiz gritar no grave. E depois eu a acometi de delicadeza. O fulgor de nossa relação não cabia em mim. Toquei com rapidez, sugeri movimentos que nem eu mesmo sabia que era capaz de realizar, e no gozo das brancas e pretas, eu fiz uma pausa. Um remake de nosso pecado silencioso. Não deixaria de tocá-las, de fazê-las gritar sob meus dedos.
E a suavidade que preenchia os meus ouvidos era mais que essencial, era perfeita. Eu sofria da decadência de possuí-las. Eu desejava acima de qualquer outro sonho, tocá-las. Eu voltava com loucura, em total transe de paixão. Deixava as minhas marcas feitas pela força de minha vontade, e no fim eu sabia o que era o meu sentimento antes oprimido.
Eu era a música. Eu fazia música. O prazer de tocar minhas teclas estava num pedestal acima de qualquer outro para mim. Eu pecava com o piano, e fazia a heresia soar para todos que quisessem ouvi-la.
Eu amava a música. Amava as pretas e brancas, que cantavam sob meu toque. 

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